19 de outubro de 2019

Provocações Psicológicas


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Sentado na beira de uma janela qualquer, contemplando o caos da humanidade e o despropósito da existência, assistia o sol observar a vida na Terra, imponente e imóvel no horizonte. A luz do céu rosado reluzindo na garrafa do bourbon que sentava ao meu lado, um cigarro acomodando-se no canto da minha boca... num dia daqueles em que parece ser possível sentir a textura do tempo no corpo. Estiquei a mão no bolso em busca do meu isqueiro. Acendi o cigarro e analisei o dragão cravado na sua cápsula. O ar e a fumaça encheram meu peito. Deslizei o olhar para um pássaro que planava no horizonte, a fumaça densa agora escapando pelos meus lábios. 
Foi quando, por um momento, as buzinas não soaram, os pássaros não cantaram e as vozes não sussurraram. O planeta se moveu em câmera lenta. Meu coração dilatou e, entre um batimento cardíaco e outro, o tempo congelou. A atmosfera se contraiu e o sentido da vida caiu-me como um raio. Vivi as milhares de vidas que ascenderam e se foram deste mundo. Vi o passado e o futuro dançarem na frente dos meus olhos. A infinitude da existência me possuiu por completo. Fui a imensidão inconcebível e incomensurável do Universo. 
Então olhei pra minha mão. O gudang  queimando entre os meus dedos. O céu rosado pairando sobre minha cabeça. A luz atravessando seus trezentos metros por segundo. Respirei fundo. Tive a sensação de que algo importante havia acontecido, mas recordação nenhuma se materializou no meu cérebro. Fitei longamente o chão abaixo de mim. Pensei: “qual o segredo da Vida?”